«Roman Polanski: A Film Memoir», o homem dentro do realizador

O documentário de Laurent Bouzereau sobre Roman Polanski mostra-nos o outro lado do realizador através de várias conversas guiadas pelo produtor e seu amigo de longa data Andrew Braunsberg. Começamos por testemunhar um Polanski sensível e emocionado quando fala sobre a sua infância conturbada em tempos de guerra, nos ghettos de Cracóvia, quando a Polónia é ocupada e a sua família é levada para os campos de concentração, onde a sua mãe acaba por morrer. O documentário vai complementando o testemunho directo com imagens de arquivo, fotografias da família e também com imagens de filmes de Polanski. Esta parte da sua vida inspirou fortemente o seu filme O Pianista,filme que o realizador responde a Andrew Braunsberg ser o que tem mais orgulho em ter realizado, também por abordar essa vivência tão íntima e ter utilizados exemplos reais para construir cenas.

Rodagem de O Pianista

A partir daí os episódios de infortúnio da sua vida vão muito além de um bom drama clássico, o que contrasta com a maturidade e serenidade com que fala ao ser confrontado com momentos de grande crueldade. Um exemplo disso é o assassínio da sua mulher que se encontrava grávida, Sharon Tate, pelo gang de Charles Manson. Não obstante o sucedido, a imprensa atacou Polanski pondo em causa a sua inocência no caso. Passados oito anos outro escândalo veio alimentar os media, quando em 1977 foi expulso dos E.U.A. por ter tido relações com uma menor. O caso foi violentamente explorado pela imprensa que causou mais danos à própria Samantha Geimer que o suposto violador. O caso é exposto abrangendo justamente os dois lados da história, com imagens de uma entrevista de Geimer, mas se até aqui Polanski tinha sido interpelado sem preocupações ou filtros, toda esta questão é abordada superficialmente.

As entrevistas decorrem no chalé suíço de Gstaad de Roman Polanski, onde ficou durante meses em detenção vigiada ao ser detido quando ia para um Festival em Zurique, em 2009. O documentário mostra um Roman Polanski com um discurso aberto e sem rodeios e sobretudo em paz com a sua história e todo o sofrimento e inquietação que encerra, mas ainda assim optimista. Desta forma, a entrevista termina num tom menos catastrófico ao narrar sua vida actual em França com a sua esposa Emmanuelle Seigner e seus filhos.