Larry Clark e Marfa Girl: a irreverência (também) na distribuição

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Pode um realizador com uma carreira sólida vencer um reputado festival de cinema sem que o seu filme seja projectado em qualquer sala de cinema fora do evento? A resposta é sim, vejamos como.

Larry Clark, realizador considerado uma influência por nomes como Gus Van Sant ou Martin Scorcese, é um absoluto especialista no retrato cinematográfico dos problemas e experiências da juventude, sempre com um registo bastante cru, despido de apriorismos e limitações morais. Sobretudo conhecido por Kids, a sua obra de estreia, esteve desde o início do seu percurso envolvido em controvérsias e a exibição dos seus filmes foi por diversas vezes proibida, como sucedeu com Ken Park, cuja distribuição não foi sequer permitida nos Estados Unidos. As cenas explícitas de sexo, de consumo de drogas e de violência são a motivação número um para as críticas negativas dirigidas ao cineasta.

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O seu novo filme, Marfa Girl, surge após um interregno de 8 anos que o separa do anterior Wassup Rockers – Desafios da Rua e dividiu a opinião da crítica – o contrário não seria de esperar. Inevitavelmente controverso, conquistou este ano o prémio maior do Festival de Cinema de Roma, o que de algum modo foi (novamente) uma “chapada de luva branca” a todos os que tentam colocar entraves ao seu cinema. Além dos dramas da adolescência, o seu habitat natural, em Marfa Girl o realizador introduz uma dimensão de realismo social, materializada no conflito entre a polícia da fronteira entre México e Estados Unidos e a comunidade artística juvenil local, marcadamente irreverente.

Fora do ecrã, a maior curiosidade acerca deste filme é que a sua projecção no Festival de Cinema de Roma terá sido a primeira e a única a ter lugar em salas de cinema, já que o filme será distribuído exclusivamente online. Larry Clark, habituado à trabalhar à margem, mostra-se simultaneamente próximo de um espírito de cinema independente e capaz perceber a evolução do negócio do cinema face à crescente importância do papel da internet. A sua posição é bem sintetizada numa recente entrevista dada à revista Filmmaker:

Eu queria fazer um filme para a Internet. Hoje em dia está tudo lá – e-mails, redes sociais e tudo mais. Tenho filhos e eles estão constantemente conectados. É tão difícil fazer um filme, especialmente um filme artístico com o teu cunho pessoal. Então eu pensei: “Por que é que não faço eu isso, crio um site e ponho a coisa a funcionar?” Decidi livrar-me dos intermediários, produtores e afins. De qualquer forma, são todos uns bandidos, eu nunca fui pago pelos meus filmes. A Internet está a acontecer, as pessoas fazem um vídeo qualquer e tem um milhão de visualizações, então, que se lixe, vamos a isso!

Por cerca de 4,5€, este filme pode ser visionado aqui.

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