BANDA SONORA: Kill Bill Vol. 1

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Tarantino está na ordem do dia e ao dar de caras (leia-se ouvidos) com a versão de Nancy Sinatra de “Bang Bang (My Baby Shot Me Down)” surgiu o pretexto para inaugurar esta secção do Cinemaville: as bandas sonoras. Porque o cinema depende delas, porque quando era mudo se serviu da música para carregar as imagens de emoção e porque o som, ou a ausência dele, fazem toda a diferença na forma como percepcionamos cada plano. Tarantino já provou repetidas vezes que as suas criações transcendem o ecrã, através de uma capacidade ao alcance de poucos: criar um estilo, um universo imaginário inconfundível. Nesse sentido, Quentin mostra que conhece bem a importância não apenas dos sons que acompanham as imagens mas sobretudo de uma banda sonora que, desprovida de imagens, vive para lá da tela.

De um ecletismo incrível, esta banda sonora reflecte o gosto musical do realizador mas, principalmente, traduz em ondas sonoras o espírito do filme. Na verdade, pouca da música deste disco é original. Trata-se de uma repescagem de temas das mais diversas origens que resulta num trabalho coerente, construído em colaboração entre Tarantino e RZA, dos Wu-Tang Clan. Fazendo a metáfora culinária, pode dizer-se que o primeiro forneceu os ingredientes e o segundo misturou tudo, deu-lhes consistência e levou ao forno. No final, saiu um prato repleto de exotismo e carisma.

Desde o tema inicial, uma versão melosa de “Bang Bang (My Baby Shot Me Down)” interpretada por Nancy Sinatra, passando pelo garage rock das japonesas The 5,6,7,8’s, pelo rap de RZA em “Ode To Oren Ishi” até a uma espécie de balada western spaghetti a la Ennio Morricone (“The Grand Duel”), a variedade é a nota dominante. Pelo meio, articulam-se diálogos do próprio filme, mas o mais incrível é perceber como surgem inúmeras referências à história do cinema. É o caso de “Twisted Nerve”, tema de um rebuscado thriller britânico de 1968, composto por Benard Herrmann (mais conhecido por “musicar” filmes como Vertigo ou Psico) ou o som do sintetizador retirado do genérico de uma série dos anos 1960, Ironside – que em Kill Bill Vol. 1 está associado aos momentos em que a noiva se encontra com um personagem da sua lista. Aliás, outro aspecto interessante é o facto de a música neste disco ser utilizada na íntegra ao longo do filme.

Em suma, o que sobressai não é apenas o sortido de referências musicais envolvidas e a expectável adequação ao filme, mas também aquilo que lhe acrescenta em termos criativos e a forma como a esta selecção demonstra a avassaladora cultura cinematográfica de Tarantino.

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