O clássico Anna Karenina, original de Leo Tolstoi, realizado por Joe Wright leva-nos até aos enredos da paixão e do amor que conduz estas personagens como num teatro de fantoches à sua mercê. A linguagem do cinema funde-se com a do teatro, numa intenção explícita do realizador, que explora o próprio espaço físico de uma sala de teatro transformando-a em quartos, salas e jardins, onde os andaimes de suporte de cenários e luzes são transformados em ruas, passando por uma das cenas notáveis do filme quando da corrida de cavalos em volta do palco e bastidores. Joe Wright faz parecer simples esta concepção devido à cadência perfeita e fluída das trocas de cenários e movimentação dos personagens como se dum bailado se tratasse. A direcção de arte é outro dos pontos fortes do filme, com composições visuais estonteantes, dignas de quadros exibidos nos melhores museus, que combinada com o encanto da realização ao coreografar planos gerais estáticos que se tornam em planos médios com movimento, nos dão a ilusão de uma pintura viva. Toda a riqueza dos cenários e guarda-roupa lembram-nos que estamos num contexto de alta aristocracia russa do século XIX.
A tempestuosa história de Anna Karenina (Keira Knightley), mulher do ministro Karenin (Jude Law), que se apaixona perdidamente pelo jovem Conde Vronsky (Aaron Taylor-Johnson) é pontuada por elementos premonitórios como focos intensos de luz (reforçando a fusão entre a linguagem teatral e cinematográfica) que iluminam a sua crescente ruína social, o uso de um plano zenital que foca Anna a olhar para o fogo de artifício no céu estrelado e que a apresenta afogada no seu vestido vermelho sangue. O comboio é um elemento simbólico no filme, tanto como testemunha de como tudo começa, como na constante analogia do seu movimento e da sua engrenagem acelerada e descontrolada como o palpitar do coração de Anna. O último quadro do filme mostra-nos um contrastante cenário tranquilo, um jardim verdejante onde as regras da sociedade estão de novo restauradas podendo a vida assim retomar a sua paz quotidiana.
As representações nos papéis principais são demasiado frívolas para a densidade de emoções que impera na narrativa. Na interpretação de Keira é como se ela se apaixonasse pela primeira vez, não reflectindo nenhum tumulto interior por estar a trair o seu marido, e mesmo as cenas com o filho são superficiais e irreais. Destacam-se alguns papeis secundários bons, como o de Matthew Macfadyen como Oblonsky, o de Olivia Williams como Condessa Vronsky ou o de Emily Watson como Condessa Lydia.
Classificação (0-10): 8
Anna Karenina | 2012 | 129 mins | Realização: Joe Wright | Argumento: Tom Stoppard | Elenco: Keira Knightley, Jude Law, Aaron Taylor-Johnson, Matthew Macfadyen , Olivia Williams e Emily Watson