A simple Life (Tao jie), realizado por Ann Hui, é o filme que marca o início da 4ª Mostra de Cinema de Hong Kong, uma história enternecedora entre um homem e a governanta da sua casa que o ajudou a criar.
Apesar de Ann Hui ser uma das realizadoras mais reconhecidas em Hong Kong e a sua obra e carreira ter sido homenageada em 2012 no Asian Film Awards (primeira mulher a receber o prémio), na Europa, pouca atenção lhe é dada. O British Film Institute afirma que Hui é das realizadoras mais injustamente negligenciadas da contemporaniedade, conseguindo muito raramente ter distribuição na Europa. Este seu último filme tem conseguido quebrar essa barreira e tem sido amplamente premiado em festivais internacionais.
Hui estudou no London International Film School antes de voltar a Hong Kong para começar a sua carreira, que desde sempre esteve ancorada à sua cidade. A realizadora teve muito sucesso no final dos anos setenta com a sua Vietman Triology composta por Boy From Vietnam, The Story of Wu Viet, e The Boat People, filmes que fizeram história na New Wave de Hong Kong, sendo que os últimos foram exibidos no Festival de Cannes nos anos oitenta. Mais tarde a realizadora adoptou uma temática mais centrada nos problemas e dramas de mulheres marginalizadas pelo seu envelhecimento como em Postmodern Life of my Aunt, e desde 2008 tem-se focado em dramas familiares como em The Way We Were desse mesmo ano.
Numa entrevista à Inquirer Hui brinca:
Quando chegamos a uma certa idade, temos de receber prémios carreira. Eu não me posso dar ao luxo de me reformar, o que me deixa assim numa posição dificil. Mas eu sinto-me muito honrada.
Em A simple Life, Hui afirma que sentiu a responsabilidade de registar a cultura e herança da cidade, em vez de estar preocupada se a história iria ser um sucesso comercial. Aos que ligam o seu sucesso com o facto desta ser uma mulher a própria responde:
Quando eu comecei à 30 anos a realizar filmes as pessoas comentavam o facto de eu ser uma mulher. Mas o ideal era não comentar se um filme é realizado por um homem ou por uma mulher, mas se calhar ainda não atingimos a igualdade de géneros. Quando chegarmos a esse estado, o género não será sequer mencionado.
Este filme conta com Andy Lau uma super estrela de Hong Kong e um dos actores mais carismáticos comparado a Stephen Chow ou Jackie Chan, é usualmente conhecido pela sua participação em filmes de acção como O segredo dos punhais voadores, Wardlords- Irmãos de Sangue ou Shaolin. O seu papel em A simple Life não representa um lugar comum para Andy Lau que teve de guardar toda a sua expressividade para dar lugar a uma representação mais introspectiva e reservada. Para além de Lau, outro papel notável é o da actriz veterana Deanie Ip muito acarinhada no seu país e depois do seu prémio como melhor actriz no Festival de Filme de Veneza e na Boston Society of Film Critics Awards começa finalmente a ter reconhecimento além fronteiras. Para além de serem ambos actores brilhantes, esta dupla já contracenou inúmeras vezes como mãe e filho no ecrã , desta feita não é sua mãe mas sim sua mais do que criada, sua cuidadora, de qualquer maneira a quimica é notória e ajuda à naturalidade da representação.
A entrevista pode ser lida aqui