Num plano geral, em silêncio, é-nos apresentada uma Sevilha a preto e branco despida de pessoas. Neste momento tudo se passa num único sítio: na Colossal, praça de touros de Sevilha. Fazendo uma analogia à história de Branca de Neve, o personagem é introduzido pelo grande plano de um pé que calça um sapato… Mas ao contrário de ser um sapato de princesa é um sapato raso preto de um toureiro que se prepara para o desafio. A música é meticulosamente trabalhada para nos induzir o estado de espírito que o filme quer transmitir e se, até então, foi contida subitamente muda para um registo fervoroso e entusiasta quando António Villalta (Daniel Giménez Cacho) se apresenta na arena, e depois num tom mais dramático quando este dedica o torneio à sua esposa grávida. O confronto é mostrado através de close ups, em diferentes ângulos, que vão alterando o ponto de vista das várias personagens envolvidas directa (entre Villalta e o touro) e indirectamente (como no caso da esposa, ou dos outros toureiros) para que o espectador se aperceba da multiplicidade de sentimentos envolvidos.
Carmencita (Macarena García) é Branca de Neve, filha do toureiro, mas apenas criada pela avó (Ángela Molina) numa Espanha tradicional, onde o som das castanholas serve de música para as sevilhanas que se dançam na rua. O preto e branco do filme realça as sombras dos movimentos das mãos a dançar nas paredes de cal imaculadamente brancas. O filme reflecte ainda uma profunda herança da religião cristã espanhola que rege a educação da menina, bem como as preces das várias personagens.
Tudo muda quando com a última nota de música a vida de sua avó finda, tendo então Carmencita de ir viver com a sua madrasta e com o seu pai inválido e manipulado pela madrasta (Maribel Verdú).
Trata-se de um filme intemporal com interpretações muito boas, que se desmarca o suficiente da história original para ser uma Blancanieves nova e cheia de personalidade.
Classificação (0-10): 8
Blancanieves | 2012 | 104 mins | Realização e argumento: Pablo Berger | Elenco: Maribel Verdú, Emilio Gavira e Daniel Giménez Cacho