Bairro, estreado na semana passada, é uma clara tentativa de realizar um blockbuster português, cujas características apontam para um público vasto que permita ao filme tornar-se bem lucrativo como é esperado desse tipo de produção.
Ingrediente 1: Escrever um argumento que agarre o espectador do princípio ao fim, usando artifícios de realização que ajudem nesse processo.
O argumento de Francisco Moita Flores (inicialmente dedicado a uma série de televisão) foi adaptado para uma longa metragem realizada por Jorge Cardoso, Lourenço de Mello, José Manuel Fernandes e Ricardo Inácio.
A história retrata a caça do cabecilha de um bando de criminosos que comanda os principais assaltos em Lisboa, pela Polícia Judiciária, uma narrativa apimentada com lutas entre gangues inimigos e divergências dentro dos mesmos.
Ingrediente 2: Recorrer a actores reconhecidos por 90% da população.
A dar corpo às personagens estão nomes bem conhecidos como Maria João Bastos, Paulo Pires, Rui Unas, Julie Sargeant e Virgílio Castelo.
Ingrediente 3: Confiar nas fórmulas previamente testadas e segui-las.
A dupla questão que pretendemos aqui colocar não é de hoje mas as respostas continuam por encontrar: será este tipo de aposta o caminho para atrair um maior volume de público de cinema português e, quiçá, contribuir para a construção o que se poderia chamar de indústria de cinema em Portugal? Ou será que, em contraste, é absolutamente impensável competir no terreno do cinema hollywoodesco com produções norte-americanas (mas não só) com maior orçamento, com protagonistas mais populares, com meios técnicos superiores e com circuitos de distribuição e exibição mais favoráveis, sendo preferível cultivar uma identidade cinematográfica portuguesa mais singular que se distinga mais pela originalidade e menos pela mimetização das demais correntes?