A propósito da décima terceira edição do LEFFEST, e da vinda do realizador a Lisboa para uma conversa com o público sobre a sua carreira, relembramos o seu último trabalho O Tempo que Resta. A não perder o encontro hoje no cinema Nimas às 18h.

Oito anos depois de Intervenção Divina, o realizador palestiniano Elia Suleiman leva às salas o seu terceiro filme, O Tempo Que Resta. Sem ter visto nenhum dos anteriores, descobrir a visão e o talento de Suleiman tornou-se ainda mais fresco e surpreendente.
A estrutura do filme divide-se em dois períodos: o do início da ocupação isrealita, em 1948, após a fundação do Estado de Israel e o presente contexto do conflito. Ambos se desenrolam no mesmo espaço e em redor da mesma vontade: mostrar, sem grande moralismo e de uma forma sobretudo auto-biográfica, o seu quotidiano e o da sua família, assim como a experiência de ser palestiniano e crescer em plena resistência à invasão isrealita. Neste filme, que dedica aos seus progenitores, o cineasta serviu-se dos diários que o seu pai lhe deixou para construir grande parte do enredo. Recheado de humor que a espaços roça o absurdo, pela natureza das situações, e pleno de sensibilidade visual e cinematográfica, este trabalho é uma perspectiva interessante, um testemunho que, dito pelo próprio Suleiman, quer ser mais um momento de verdade do que uma lição de história.
Para além do testemunho íntimo que transporta para o ecrã, o realizador procura, ao seu próprio estilo, criar no espectador uma sensação de identificação que vai muito além do caso da palestina. No fundo, Suleiman quer, e consegue, fazer-nos sentir a todos palestinianos, porque a vivência e os efeitos desta ocupação acabam por ser comuns a tantas outras.
O Tempo que Resta é um filme inspirado que nos mostra que, tantos anos depois do início de um conflito completamente absurdo e desigual, os locais estão muito diferentes mas no centro da questão nada mudou: continuam a atirar-se pedras e paus contra canhões…