Provocador, frenético e colorido, assim é Bruxas e outras Loucas, do realizador Álex de la Iglesia. Uma comédia de costumes tão esquizofrénicos como assertivos. Em jeito de prólogo, o filme começa por apresentar três bruxas, que falam duma profecia que governará a história de todo o filme: Jesus, o soldado verde e o miúdo chegarão para a concretizar… Depois do mote lançado, vemos desfilar no ecrã célebres figuras femininas da nossa história, nas mais diversas áreas – das artes à política, da contemporaneidade até à Mulher de Willendorf (essa figura do Paleolítico que assusta qualquer elegância feminina, a Grande Mãe da cultura europeia, que mais do que um retrato realista representa o poder feminino – o da fertilidade). Depois de toda uma toada feminista o filme segue numa direcção totalmente diferente, tanto no espaço (da floresta para o centro de uma qualquer cidade), como na linha de pensamento (de um ambiente feminino para o masculino). De repente estamos num policial surrealista, onde as personagens da profecia, aparecem na companhia da Minnie e do Sponge Bob para assaltar uma loja de compra e venda de ouro. Qual realidade cruel de um sistema capitalista decrépito, que teima em não morrer “Só querem chupar o nosso sangue” – diz uma das mulheres do filme.
O uso de elementos simbólicos sejam os anéis roubados (representando promessas quebradas e sonhos frustrados), ou a escolha de costumes dos personagens (a crítica à religião e às forças militares) acrescentam uma dimensão mais interessante ao filme, não tão superficial como poderia parecer.
Numa temática centrada na luta de géneros, o filme cobre todos os lugares comuns entre as diferenças entre homens e mulheres, mas fá-lo de uma maneira brilhante. O argumento constrói a narrativa e explora tão bem as personagens (ainda que também elas, tipos, ou arquétipos preconceituosos) duma maneira tão extrema e visualmente imponente que faz com que os clichés estejam em função do humor e não o contrário (como por vezes acontece, usados como muletas para o humor).
E se o lado masculino é descrito como tendo o condão mágico da racionalidade e sensatez, levando à culpabilização fácil do sexo oposto, por todos os males que lhe acontece, retratando as mulheres como bruxas. Também são estas que fazem com que eles deixem de ser o sexo forte, para se tornarem meros fantoches, num jogo de poder contra poder estimulante.
O amor, e o contraste como ambos o percepcionam, é também motivo de muito debate entre os diferentes grupos, sejam homens/mulheres ou entre as bruxas. O uso do imaginário fantástico das bruxas, por vezes é demasiado forçado comparado com a componente realista que os homens comportam. Mas esse choque também serve para demarcar mais uma vez a dicotomia generalista entre os géneros, um mais pragmático, o outro mais romântico e fantasioso. As bruxas foram sempre representação do desconhecido, mulheres poderosas, nesta caso até de um certo estatuto bastante mais elevado que o homem, mero peão no jogo na reprodução da espécie.
A direcção artística e o guarda-roupa, tornam este filme num espectáculo pop gótico para os olhos, roupas arrojadas e cenários apoteóticos dão vida às cenas de acção até ao seu momento final. Numa quase ode à liberdade sexual e poder feminino, não fosse o amor equilibrar essa guerra, declarando bandeira branca, este filme é uma comédia hilariantemente louca.
Classificação (0-10): 8
Bruxas e outras Loucas | 2013 | 112 mins | Realização: Álex de la Iglesia| Argumento: Álex de la Iglesia, Jorge Guerricaechevarría | Elenco principal: Hugo Silva, Mario Casas, Pepon Nieto, Carolina Bang, Terele Pavez, Jaime Ordoñez, Carlos Areces, Santiago Segura, Secun de la Rosa, Macarena Gómez, Gabriel Delgado, Carmen Maura
-As Bruxas De Zugarramurdi –
Acabei de assistir este filme, lançado ano passado e fiquei estarrecido com tanta mediocridade, apelação e vulgaridade de como ele trata as Bruxas e a Grande Mãe.
Com direito a: Canibalismo, esquartejamentos, possessão, criança exposta ao extremo risco, mulheres loucas e dementes, e a sagrada representação da Deusa Vênus de Willendorf, como uma ogra sem noção e horrenda.