MOTELx 2014: «Witching and Bitching – As Bruxas De Zugarramurdi» e outras loucas

Bruxas_poster

Provocador, frenético e colorido, assim é Bruxas e outras Loucas, do realizador Álex de la Iglesia. Uma comédia de costumes tão esquizofrénicos como assertivos. Em jeito de prólogo, o filme começa por apresentar três bruxas, que falam duma profecia que governará a história de todo o filme: Jesus, o soldado verde e o miúdo chegarão para a concretizar… Depois do mote lançado, vemos desfilar no ecrã célebres figuras femininas da nossa história, nas mais diversas áreas – das artes à política, da contemporaneidade até à Mulher de Willendorf (essa figura do Paleolítico que assusta qualquer elegância feminina, a Grande Mãe da cultura europeia, que mais do que um retrato realista representa o poder feminino – o da fertilidade). Depois de toda uma toada feminista o filme segue numa direcção totalmente diferente, tanto no espaço (da floresta para o centro de uma qualquer cidade), como na linha de pensamento (de um ambiente feminino para o masculino). De repente estamos num policial surrealista, onde as personagens da profecia, aparecem na companhia da Minnie e do Sponge Bob para assaltar uma loja de compra e venda de ouro. Qual realidade cruel de um sistema capitalista decrépito, que teima em não morrer “Só querem chupar o nosso sangue” – diz uma das mulheres do filme.

O uso de elementos simbólicos sejam os anéis roubados (representando promessas quebradas e sonhos frustrados), ou a escolha de costumes dos personagens (a crítica à religião e às forças militares) acrescentam uma dimensão mais interessante ao filme, não tão superficial como poderia parecer.

Numa temática centrada na luta de géneros, o filme cobre todos os lugares comuns entre as diferenças entre homens e mulheres, mas fá-lo de uma maneira brilhante. O argumento constrói a narrativa e explora tão bem as personagens (ainda que também elas, tipos, ou arquétipos preconceituosos) duma maneira tão extrema e visualmente imponente que faz com que os clichés estejam em função do humor e não o contrário (como por vezes acontece, usados como muletas para o humor).

E se o lado masculino é descrito como tendo o condão mágico da racionalidade e sensatez, levando à culpabilização fácil do sexo oposto, por todos os males que lhe acontece, retratando as mulheres como bruxas. Também são estas que fazem com que eles deixem de ser o sexo forte, para se tornarem meros fantoches, num jogo de poder contra poder estimulante.

O amor, e o contraste como ambos o percepcionam, é também motivo de muito debate entre os diferentes grupos, sejam homens/mulheres ou entre as bruxas. O uso do imaginário fantástico das bruxas, por vezes é demasiado forçado comparado com a componente realista que os homens comportam. Mas esse choque também serve para demarcar mais uma vez a dicotomia generalista entre os géneros, um mais pragmático, o outro mais romântico e fantasioso. As bruxas foram sempre representação do desconhecido, mulheres poderosas, nesta caso até de um certo estatuto bastante mais elevado que o homem, mero peão no jogo na reprodução da espécie.

A direcção artística e o guarda-roupa, tornam este filme num espectáculo pop gótico para os olhos, roupas arrojadas e cenários apoteóticos dão vida às cenas de acção até ao seu momento final. Numa quase ode à liberdade sexual e poder feminino, não fosse o amor equilibrar essa guerra, declarando bandeira branca, este filme é uma comédia hilariantemente louca.

Classificação (0-10): 8

Bruxas e outras Loucas | 2013 | 112 mins | Realização: Álex de la Iglesia|   Argumento: Álex de la Iglesia, Jorge Guerricaechevarría | Elenco principal: Hugo Silva, Mario Casas, Pepon Nieto, Carolina Bang, Terele Pavez, Jaime Ordoñez, Carlos Areces, Santiago Segura, Secun de la Rosa, Macarena Gómez, Gabriel Delgado, Carmen Maura

One response to “MOTELx 2014: «Witching and Bitching – As Bruxas De Zugarramurdi» e outras loucas

  1. -As Bruxas De Zugarramurdi –
    Acabei de assistir este filme, lançado ano passado e fiquei estarrecido com tanta mediocridade, apelação e vulgaridade de como ele trata as Bruxas e a Grande Mãe.
    Com direito a: Canibalismo, esquartejamentos, possessão, criança exposta ao extremo risco, mulheres loucas e dementes, e a sagrada representação da Deusa Vênus de Willendorf, como uma ogra sem noção e horrenda.

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