IndieLisboa’14: «Drinking Buddies»

drinkingbuddies

À primeira vista uma das propostas mais mainstream da edição 2014 do IndieLisboa, Drinking Buddies desafia os maneirismos habituais do género cinematográfico em que aparentemente se enquadra. Escrito e realizado por Joe Swanberg (pouco conhecido entre as hostes nacionais), este exercício de cinema pleno de liberdade leva ao grande ecrã uma fase de impasse característica de um certo percurso de vida ao explorar duas figuras centrais e o seu ponto de situação: a ausência de horizontes de futuro causada pela alternância entre relacionamentos fracassados, no caso de Kate (Olivia Wilde); a continuidade de uma relação da qual brota uma expectativa de evolução (leia-se casamento), no caso de Luke (Jake Johnson). Assim, a história constrói-se em torno destes dois melhores amigos e colegas de trabalho numa cervejeira na qual Kate é relações públicas e a única mulher da empresa.

Entre dias de trabalho e noites de copos, humor e drama levedam lentamente numa narrativa que cronologicamente avança muito pouco ao longo dos 90 minutos. A sequência do fim de semana que os dois casais (Kate e o seu actual namorado mais Luke e a sua companheira de longa data) passam numa casa de campo é provavelmente uma das mais alegóricas em relação aquilo que é o alvo do filme. O “swing” empático, tão involuntário quanto natural, que surge entre os casais é bem demonstrativo tanto do desnorte emocional das personagens como das invisíveis e persistentes barreiras da mítica “zona de amizade” e que demovem dois seres incrivelmente alinhados (Kate e Luke) de se aproximarem em termos românticos. Outra demonstração é a cena em que Kate troca de casa, considerando ela que “as mudanças são o inferno” (nítida associação à sucessão de relações quebradas), que Luke facilmente simplifica, trazendo o equilíbrio e a motivação em falta, sempre no limbo entre o amigo e algo mais.

Drinking Buddies - Oct 2013

Ainda que a comédia-romântica seja o género cinematográfico onde Drinking Buddies melhor se encaixa, Swanberg não insiste em demasia no humor nem tão pouco faz do romance a nota dominante. Trata-se de uma abordagem essencialmente observacional para o qual muito contribuem as prestações sinceras e credíveis do quarteto de personagens principais, do qual sobressai a parelha Olivia Wilde/Jake Johnson. Wilde, em particular, surge num registo pouco habitual com esta personagem descontraída e afectuosa, sobretudo analisando o conjunto da sua carreira em que tem sido frequentemente chamada a desempenhar papéis de vilã ou “femme fatale” com pouca profundidade, correspondendo ao desafio com a melhor presentação a que assistimos até à data.

Ainda que a marca de autor se possa encontrar nos movimentos de câmara libertos e na quase ausência de banda sonora, os principais trunfos de Swanberg em Drinking Buddies são o diálogo e a contracena, em grande medida resultado de improviso. Durante a rodagem, que teve lugar numa cervejeira verdadeira, os actores puderam de facto beber cerveja, acentuando a importância da realidade enquanto principal objecto do filme: não apenas o que nela acontece mas, surpreendentemente, também o que fica por acontecer.

Projecto tipicamente indie e low profile (no bom sentido), apoiado em interpretações convincentes e calorosas, porém contido tanto no capítulo dramático como no da comédia e cujo desenrolar da trama, pese embora invulgar e muito livre, deixa alguma sede por mais uma rodada.

Classificação (0-10): 7

Drinking Buddies | 2013 | 90 mins | Realização e argumento: Joe Swanberg | Elenco principal: Olivia Wilde, Jake Johnson e Anna Kendrick

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