Perto de completar 80 anos e de alcançar o impressionante número de 50 longas metragens escritas e realizadas, Woody Allen prova com Magia ao Luar que ainda tem algo para oferecer ao cinema e que será sempre merecedor do benefício da dúvida a cada nova produção. Claro que quantidade não equivale a qualidade, mas este é um filme alguns furos acima de recentes desilusões como Scoop ou Para Roma Com Amor. É impressionante a mestria dos diálogos e o domínio dos planos, fazendo parecer simples e rotineira a tarefa de (bem) filmar. De realçar igualmente a beleza oferecida pela fotografia e pela recriação de época, tanto em termos de cenários como de guarda-roupa e até mesmo de automóveis. Para além disso, se por diversas vezes Allen se mostrou capaz de desenhar personagens de notável profundidade, potenciando o talento dos actores ao ponto de nos seus filmes emprestarem performances de nível superior, esse é uma vez mais o caso: Colin Firth é não menos que soberbo no desempenho Stanley, um ilusionista britânica céptico incurável, hiper-racional e desencantado com a vida mas dotado de um humor mordaz e de uma incapacidade de fazer amigos. Ainda que menos impressionante, a interpretação de Emma Stone é no mínimo o resultado de um casting feliz (muito ajudam os seus enormes olhos), cumprindo bem o papel da jovem medium que reúne todas as atenções ao seu redor. Nota ainda para a subtileza como Woody Allen parece querer incorporar a sua própria visão metafísica (pelo menos assim se imagina), neste caso da vida para além da morte e dos poderes paranormais. |