Nas primeiras sequências, Alain Resnais mostra-se desconcertante e lembra-nos o valor do seu legado: um conjunto de actores reais (ou interpretando-se a si mesmos) recebe à vez um telefonema informando da morte do amigo e célebre dramaturgo Antoine D’Anthac (personagem fictícia); os actores acedem ao pedido de Antoine e reúnem-se em sua casa para uma surpresa que consiste em assistir a um filme dos ensaios de uma jovem companhia de teatro que pretende encenar a sua peça mais célebre, Eurídice, que de resto todos os presentes já interpretaram no passado. A partir deste mote Resnais desafia as regras da narrativa e explora as fronteiras entre cinema e teatro, mas também entre espectador e intérprete, de forma assaz original. A ilusão e a imaginação parecem não ter limites para o modo com os actores se empolgam, revivendo e reinterpretando a referida obra. Há movimentos de câmara brilhantes, separadores enigmáticos a lembrar o cinema-mudo, cenários logicamente impossíveis e até a iluminação surge como se de uma peça se tratasse. Vivacidade impressionante para um cineasta que à data de criação do filme contava 90 anos. |