Neste documentário Petr Hátle procura captar a essência do submundo da vida nocturna contemporânea, uma realidade que não sendo propriamente desconhecida é regularmente fetichizada e considerada à luz de um certo deslumbramento. O espaço é a cidade de Praga e as personagens (reais) circulam entre ruas, bares, casino ou hotéis com um denominador comum: mostram-se emocionalmente quebrados, à deriva num estado de sonambulismo que só as dependências disfarçam. Do alcoolismo à prostituição, do vício do jogo à toxicodependência passando pela promiscuidade sexual, reúnem-se um conjunto de trajectórias (ainda que sem direcção) que por vezes conjugam mais do que uma destas condições.
Hátle mostra-se tecnicamente superior no registo destas vivências intoxicadas e com valores muitos particulares, colocando o espectador cara-a-cara com estas pessoas através de planos extremamente fechados. O som é também fulcral, e não só a música, que surge esporadicamente para acentuar a vertente poética do filme, mas sobretudo nos momentos em que o realizador relega a imagem para segundo plano (por vezes prescindindo mesmo dela) e tudo o que resta é o registo sonoro.
Todavia, o esforço estético colocado no retrato do vazio destas vidas revela alguma falta de coesão e de orientação cronológica. Fica a sensação de que esta abordagem micro e algo crua ao tema que merecia outra profundidade e ambição, não apenas em relação a cada um dos indivíduos mas principalmente ao fenómeno em geral, que provavelmente ganharia com uma aproximação um pouco mais sociológica.
Classificação (0-10): 7
Velká noc (The Great Night) | 2013 | 72 mins | Realização: Petr Hátle