Duras et le Cinéma, da realizadora Dominique Auvray, é um documentário sobre Marguerite Duras e a sua relação invulgar com a arte do cinema.  Através de filmagens de bastidores e entrevistas com Duras vamos conhecendo as suas camadas, a sua personalidade aberta ao diálogo, a sua alma criativa e a sua reticência à adaptação dos seus livros ao cinema. Na primeira pessoa, Duras conta a sua relação amor-ódio pelo cinema e como, para defender as suas palavras, decidiu ser ela a adaptar os seus livros ao grande ecrã.

Carismática e de personalidade recta, o documentário mostra-a através do testemunho dos seus pares e amigos. Em particular dois amigos centrais na sua vida, Bruno Nuytten, que partilhava com Duras uma relação afectuosa, de partilha de momentos e emoções, e Benoît Jacquot, com quem tinha uma simbiose muito especial ao nível intelectual. Os testemunhos de ambos são apresentados de uma forma muito peculiar: em vez de recolher depoimentos directos, Auvray convidou dois actores que se apresentam de negro a ler e partilhar connosco as palavras de Nuytten e Jacquot sobre Duras, conseguindo ainda assim transmitir a alma íntima e calorosa de ambos.

Duras não foi sempre bem aceite nem compreendida no meio cinematográfico mas isso não a demoveu ou desmotivou. O que ela mais gostava ao realizar um filme era dirigir os actores e ter essa dinâmica criativa entre pessoas, muito diferente da experiência solitária de escrever livros e nesse âmbito ela era bem sucedida. Havia uma relação muito boa entre ela e os actores, bem como com pessoas ligadas a aspectos técnicos que ela convidava para ver o processo de gravação e perguntava a opinião deles, o que demonstra que valorizava esta cumplicidade entre as pessoas.

Sem dúvida um documentário cativante que capta de um modo imparcial uma mulher e artista que afectou profundamente a arte do século XX, seja na literatura, no teatro ou no cinema.

Nota: o filme terá reposição amanhã, 23 de Outubro, às 16.15, na Culturgest.