Doclisboa ’14: «Branco Sai Preto Fica»

Branco sai, preto fica poter

Branco Sai Preto Fica, do realizador Adirley Queirós é um filme que vive na fronteira do documentário e da ficção, construindo uma fábula para a invasão da polícia a um baile black, em 1986, no centro cultural do Quarentão na Ceilândia, um subúrbio de Brasília e terra natal do realizador. Esta invasão, mascarada de operação para apreensão de droga, traduziu-se num acto profundamente discriminatório, o nome do filme é uma citação da ordem policial “Branco Sai Preto Fica”

Como já tinha feito no seu documentário anterior A Cidade é Uma Só? (2011), Queirós continua a explorar as questões sociais em volta da capital Brasileira como o poder corrupto dos governadores e a segregação nos arredores da cidade, que acontecia nos anos oitenta e que continua a acontecer. Com uma abordagem de ficção científica, o filme projecta os problemas sociais existentes num futuro que foi comprometido pelo passado e presente.  o filme acompanhamos duas vítimas do tiroteio, Marquim um homem paraplégico que ficou preso a essa noite e dedica a sua actividade radiofónica a reviver em loop o baile, e Sartana (nome inspirado nos western-spaghetti ) com uma prótese que substitui a perna que perdeu e que se torna um artesão de próteses.

Branco sai, preto fica

Há um terceiro homem, vindo do futuro, que é apresentado num contentor-nave que serve de sala de pesquisa de um crime com fotos e artigos espalhados pela contentor e depoimentos das vítimas projectados nas paredes. Ele é enviado a Ceilândia para recolher provas para um processo que denuncia os crimes racistas cometidos pelo Governo, naquela noite. O separador entre ele e as vítimas de tal crime é feita através de um travelling num túnel de metro, fazendo entender que são duas realidades diferentes.

Branco sai, preto fica

A toada ficcional com que são retratados os acontecimentos alivia a carga emocional que seria mais explorada se o documentário fosse abordado de forma mais factual, mas isso também o tornaria inevitavelmente menos inovador. Este filme é sem dúvida uma lufada de ar fresco na programação do festival, e que vem confirmar o nome de Adirley Queirós na nova vaga de cinema brasileiro.

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