Mundo Jurássico, realizado por Colin Trevorrow, é uma viagem de volta ao mundo imaginário criado por Steven Spielberg há 22 anos atrás em Parque Jurássico. Trevorrow, aluno de cinema da Universidade de Nova York, realizou em 2012 Safety Not Guaranteed, a sua primeira longa metragem e mergulha agora num blockbuster nostálgico. Com uma forte ligação ao primeiro filme da saga, o argumento desta sequela apresenta um avanço temporal e mostra-nos o parque da Isla Nublar em pleno funcionamento, com dinossauros contidos no seu habitat e milhares de visitantes a usufruir de atracões jurássicas e cretáceas. Existe uma clara homenagem à obra inaugural, seja através da t-shirt de um funcionário com o logo original, da vontade invocada de John Hammond, da visita ao átrio do edifício principal antigo ou à garagem onde se encontravam alguns jipes antigos.
O factor de mudança desta coexistência pacífica entre os dinossauros e humanos está na necessidade de criar uma nova atracção para atrair mais público, o que motiva os cientistas a conceber uma nova espécie de dinossauro híbrido com ADN de outros animais. A inovação cíclica nas atracções do parque com vista a atrair mais visitantes são também elementos que, na realidade, funcionam como atractivo para mais espectadores assistirem às sucessivas sequelas da saga. Neste caso, as novidades centrais são a criação de novos animais geneticamente modificados e o desenvolvimento da capacidade humana para “domar” os Velociraptores.
E porque por vezes a ficção também é baseada na realidade, não só o parque necessita de mais dinheiro como o filme também deve ter lucrado com o excessivo “product placement”, um escandoloso bombardeamento de marcas, desde o patrocinador do centro de investigação, a bebidas e até carros.
As questões morais que Mundo Jurássico levanta vão no sentido mais profundo da abusiva manipulação genética ao serviço de maior retorno financeiro, assim como a investigação científica ao serviço de fins militares, nomeadamente com o objectivo de criar uma nova arma, esquecendo todos os princípios éticos. Questiona-se também a relação dos humanos com os restantes animais, com os primeiros sempre numa posição de superioridade, de dominação e de apropriação dos segundos em seu benefício.
Apesar de hoje em dia os meios tecnológicos disponíveis sejam muito superiores e existir um maior realismo, com recurso a efeitos digitais que na maior parte do tempo parecem bastante naturais, Parque Jurássico ainda se mantém actual e os seus dinossauros são tão credíveis como os de Mundo Jurássico (ainda que este acrescente mais espécies e permita cenas mais arrojadas, como as do Mosassauro). Para além disso, o argumento do primeiro filme foi cativante e inovador, apesar de seguir todas as etapas típicas da jornada do herói, o que faz com que os seus sucessores tenham dificuldade em não cair no previsível e repetitivo. O inevitável sempre acontece: um incidente leva a que os dinossauros escapem ao controlo e o parque fica em perigo… Se tal não acontecesse a narrativa não tinha razão de existir.
O filme tem um bom sentido de humor, conseguindo rir-se dele próprio em cenas que exploram mais a capacidade tecnológica do que a seriedade do argumento, de que são exemplo as cenas de mota a alta velocidade e em paralelo com os dinossauros ou o jogo de basebol que os Pteranodons fazem com a assistente. O elenco não é um dos pontos fortes, as melhores interpretações são as de Chris Pratt que interpreta Owen, o domador de velociraptores, e de Irrfan Khan como Simon Masrani, o novo dono do parque. A representação de Bryce Dallas Howard é insípida e pouco credível, tanto como trabalhadora obcecada, tia arrependida ou apaixonada reprimida.
Classificação (0-10): 7
Mundo Jurássico | 2015 | 124 mins | Realização: Colin Trevorrow | Argumento: Rick Jaffa, Amanda Silver | Elenco principal: Chris Pratt, Bryce Dallas Howard e Ty Simpkins