Dia 1: Terça, 8 de Setembro
O MOTELx 2015 arrancou oficialmente com a inauguração da exposição “Figuras Clássicas do Terror”, comissariada por Bruno Caetano, que apresenta ilustrações de artistas portugueses de figuras do universo do terror que graças ao cinema se tornaram parte da cultura popular universal. Vai estar patente até ao final do evento, por isso não há razão para não ver!
Logo de seguida a muito aguardada sessão de abertura, que esgotou a lotação da sala Manoel de Oliveira para a exibição do regresso de M. Night Shyamalan aos bons filmes! A Visita demonstra que o realizador não esgotou afinal todos os seus recursos criativos, apresentando um argumento rico e meticulosamente estruturado, tanto em termos de profundidade de personagens como de pistas deixadas intencionalmente e até de uma reviravolta bem ao seu estilo, tão plausível quanto inesperada. Em muito contribuem as excelentes interpretações dos dois netos (Olivia DeJonge e Ed Oxenbould) que visitam pela primeira vez os seus avós maternos (Deanna Dunagan e Peter McRobbie), um retiro que dificilmente esquecerão. Mesmo em termos formais Shyamalan inova consideravelmente, adoptando um registo de falso “found footage”, dado que todas as imagens que compõem o filme são supostamente captadas pelos dois jovens com as duas câmaras, um documentário que pretendem dedicar à sua mãe. Muito suspense, pouca violência gráfica e doses generosos de humor permitem arriscar que esta é não só uma das melhores propostas do festival como assinala o retorno do realizador de O Sexto Sentido e A Vila à sua melhor forma.
Dia 2: Quarta, 9 Setembro
Ao segundo dia de festival chegou um dos filmes mais esperados deste ano: Turbo Kid, de François Simard, Anouk Whissell e Yoann-Karl Whissell. Somos levados de volta a 1997, num cenário pós-apocalíptico que tornou a vida na terra bastante difícil, os terrenos áridos e a água um bem escasso, mas tudo isto em ambiente geek. A direcção de arte é, convém dizê-lo, um dos pontos mais fortes ao criar um universo ficcional distópico simultaneamente rigoroso em termos de adereços, como brinquedos, walkmans ou banda desenhada, completada por uma banda sonora que vai de Van Halen a uma abundância de sintetizadores que apelam aos jogos de arcada. A fotografia é gritante pela positiva e a realização não se fica atrás, de que é exemplo o louco raccord entre uma serra eléctrica e uma roda de bicicleta. No entanto, a narrativa prende-se em demasia à chamada “jornada do herói”, neste caso o próprio Turbo Kid que almeja não apenas libertar o planeta das mãos dos vilões como, pelo caminho, salvar a sua donzela andróide e conquistar o seu coração. Tudo isto com a maior quantidade de sangue jorrado vista até ao momento no MOTELx, que consideramos difícil de superar. No global um filme bastante acima da média em termos de técnica e criatividade e que merece destaque.
Mais tarde, a masterclass “3D Modellng and Texturing no Cinema de Terror”, conduzida por David Dias da Odd School, permitiu conhecer mais a fundo o o processo de criação de 3D geradas em computador (CGI – Computer-Generated Imagery) e da sua ampla utilização ao serviço do cinema de terror.
Para a noite ficaram reservadas duas sessões marcadas pela aparição de convidados especiais. A primeira apresentou a antologia Tales of Halloween, longa-metragem composta por dez segmentos criados por onze realizadores que juntaram as suas visões da noite de Halloween para criar uma narrativa comum num subúrbio aterrorizado pelas mais diversas criaturas. Axelle Carolyn, umas das realizadoras, esteve na sala Manoel de Oliveira para apresentar o filme. A segunda sessão, quase em simultâneo com a acima referida e de lotação esgotada, tratava de exibir Nina Forever, abrilhantado pela presença dos realizadores Ben e Chris Blaine que introduziram esta comédia negra de contornos românticos. Em causa está o “drama” de um triângulo amoroso impossível entre um rapaz, Rob, que carrega consigo uma aura de má sorte, uma ex-namorada morta-viva, Nina, e uma médica, Holly, que pretende restaurar a harmonia na vida de Rob.