Dia 3: Quinta, 10 de Setembro
O terceiro dia do MOTELx prometia a primeira aparição do principal convidado junto do público. Assim aconteceu na sessão que exibiu três curtas-metragens de Richard Stanley, com a presença do cineasta. Seguiu-se a apresentação do livro “MOTELx – Histórias de Terror”, uma das grandes surpresas do festival fora do ecrã, que através de um concurso de contos proporcionou à vencedora Cláudia Fernandes ver o seu conto publicado juntamente com os de Adolfo Luxúria Canibal, Afonso Cruz, Filipe Homem Fonseca, Inês Fonseca Santos, entre outros.
Foi igualmente na presença de convidados de honra que se iniciou a sessão de Road Games, nomeadamente do realizador Abner Pastoll, da co-protagonista Joséphine de La Baume e da produtora Junyoung Jang. O filme em si foi maioritariamente uma desilusão, muito por responsabilidade das interpretações pouco credíveis, da cadência entediante mas principalmente de uma trama cujos pontos chaves parecem colados com cuspo. Para a meia-noite era esperado o novo de Takashi Miike, um cocktail assumidamente trash de acção, máfia japonesa e vampiros intitulado Yakuza Apocalypse.
Dia 4: Sexta, 11 de Setembro
Com o fim-de-semana à espreita, que melhor forma de começar mais um dia “maldito” do que assistindo a uma demonstração ao vivo das mais modernas e aterradoras técnicas de caracterização no cinema de terror? Os especialistas Dave Bonneywell (com trabalho feito em projectos como Dog Soldiers, 28 Weeks Later, Seed of Chucky ou Hellboy 2: The Golden Army) e Rita Anjos (que mostrou o seu talento em Dédalo, Child 44, Doctor Who e The Forest) fizeram as delícias de todos os que apreciam uma personagem bem desfigurada. Ao mesmo tempo, assistia-se na sala principal do Cinema São Jorge a Purgatory, de Pau Teixidor, cuja premissa se revestia de potencial: uma mulher que perdeu o filho muda-se com o namorado para uma nova casa onde certa noite, encontrando-se sozinha, uma vizinha lhe pede de emergência que tome conta de um rapaz de 10 anos. Acontece que aparentemente ninguém regressa para o vir buscar e o jovem parece ter algum tipo de distúrbio psicológico, ao ponto de ver outra criança na casa que mais ninguém vê. Por um lado, em termos técnicos o filme mostra-se bem executado, sobretudo considerando os meios aparentemente escassos, criando um ambiente claustrofóbico num deserto suburbano, com movimentos de câmara que acentuam habilmente a perturbação da protagonista. Contudo, e pela negativa, a cadência lenta com que se constrói a tensão acaba por ter pouca relevância, os elementos simbólicos usados são previsíveis e os flashbacks desnecessários, ficando a sensação paradoxal de que é explicado excessivamente o que é óbvio ficando por explicar questões fundamentais da trama.
Ao cair da noite, uma parte do público colocou à prova os seus conhecimentos de cinema de terror no sempre muito concorrido MOTELquiz, enquanto outros assistiam a Cop Car, um improvável thriller encabeçado por Kevin Bacon que parte de um pressuposto caricato: dois rapazes metem-se em sérios sarilhos quando decidem dar uma volta num carro da polícia, sendo que a situação se complica progressivamente e cada vez mais a sua saída é conduzir mais depressa prosseguindo em fuga.
A fechar o dia, duas sessões da meia-noite lotadas: uma delas em dose dupla (Turbo Kid + Everly, o segundo com Salma Hayek no papel principal), outra com o bizarro “mocumentary” What We Do In The Shadows. Esta espécie de reality show cómico mostra a vida e o drama de três vampiros de outros tempos, com idades separadas por largas centenas de anos, que partilham uma casa e todos os desafios da sociedade contemporânea, todas as dificuldades de viver em comunidade, tanto a que os estranha na rua como a que os três tentam formar dentro de portas. Hilariante e inteligente, sem dúvida uma abordagem inovadora ao universo vampiresco!