Dia 5: Sábado, 12 de Setembro
Últimos dois dias do festival repletos de motivos de interesse, também por se tratar de um fim-de-semana. Ao longo da tarde, a masterclass de tributo ao recém-falecido Christopher Lee trouxe à sala Montepio admiradores e e interessados no trabalho do actor. “Please Suck My Blood: The Dark Loves of Christopher Lee” foi ministrada pelo jornalista e crítico dos “Cahiers du Cinéma” Stéphane du Mesnildot, que apesar da muita e boa informação analítica que partilhou sobre o percurso e o simbolismo de personagens interpretadas por Lee não foi capaz de cativar a audiência nem tão pouco gerar qualquer tipo de debate. Mais tarde na mesma sala iniciava-se mais uma Noite de Jogos de Terror, um clássico em qualquer edição do MOTELx. Já no piso superior iniciava-se a projecção de Shrew’s Nest, com a presença da protagonista Macarena Gomez e do realizadores Juanfer Andrés e Esteban Roel, que no final responderam a diversas questões colocadas pelo público. O filme revelou-se uma agradável surpresa, pautada por uma interpretação magistral da actriz espanhola que não esconde a sua preferência por figuras profundas, complexas e sombrias. Com um argumento fortíssimo, que estabelece paralelos com a Espanha franquista, plena de opressão (em particular das mulheres) e de mão dada com a religião, prova-se que a escassez de orçamento (a rodagem decorreu em apenas 21 dias, por exemplo) pode ser perfeitamente suplantada com talento e criatividade.
Fasquia muito elevada para a sessão da meia-noite que começava com Green Room, de Jeremy Saulnier, em grande medida pela excelente impressão que deixou em 2013 com Blue Ruin. O novo filme é igualmente realista e visceral, meticuloso nos cenários e no detalhe com que constrói as personagens mas mais violento. Neste cujo elemento distintivo é a fotografia, na maior parte do tempo marcada pela densa vegetação, não apenas para reinforçar o ambiente “verde” (no seguimento do “azul” de Blue Ruin) mas também sublinhar que mesmo no seio de fenómenos tipicamente urbanos como o punk ou os movimentos supremacistas o instinto mais forte é o que emana da natureza: sobreviver. Ao mesmo tempo, na sala 3 celebravam-se os 40 anos da comédia musical The Rocky Horror Picture Show, uma sessão esgotada e delirante, na qual houve mesmo coreografias às quais o plateia prontamente aderiu.
Dia 6: Domingo, 13 de Setembro
We Are Still Here
A tarde começou com We Are Still Here no registo bastante usual de casa assombrada, algo retro mas também muito gasto, desta feita recorrendo também ao comum trauma do casal que perdeu um filho. Sendo visualmente monótono, algo que em poucos momentos é quebrado com alguma acção e terror propriamente ditos, a originalidade reside nos “vilões” da história, uma espécie de corpos em brasas que derretem tudo ao seu toque. Interpretações medianas e falta de detalhe na explicação da maldição, o que lhe daria maior credibilidade, acabam por fazer deste um filme que se perderá na memória dos espectadores.
Knock Knock
Para a sessão de encerramento ficou guardado Knock Knock, que assinalou o regresso de Eli Roth ao MOTELx e ao grande ecrã com este filme de home invasion protagonizado por Keanu Reeves, que no seio de uma vida perfeita se torna vítima de duas jovens mulheres quando estas lhe batem à porta para torna entrar na sua vida e torná-la num pesadelo. Por fim, foi anunciado que o filme Miami, de Simão Cayatte, foi o vencedor do Prémio MOV MOTELx 2015, o maior atribuído até hoje a curtas-metragens em Portugal (5000 euros). O júri fundamentou a sua escolha afirmando tratar-se de “uma história e um argumento que resultam num final satisfatório mas que, ao mesmo tempo, abrem espaço à continuidade da narrativa e à sua mitificação, tal como a personagem principal almeja no filme”. Para mais cinema de terror em doses concentradas e com a qualidade que nestes seis dias se viu na capital será preciso esperar até Setembro de 2016. Até lá!
Cinemaville 