«Casa da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares»: Burton regressa ao Futuro

A Casa da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares, o mais recente filme de Tim Burton, baseado no romance de Ransom Riggs, leva-nos a uma viagem extraordinária de um jovem que descobre através do seu avô que a sua vida é muito mais peculiar do que ele imagina… Burton tem um especial carinho pela ligação intergeracional entre avós e netos (patente em Charlie e a Fábrica de Chocolate). Num ambiente surrealista com a Segunda Guerra Mundial como pano de fundo, este filme é uma aventura juvenil à la Inception. O humor sem limites de Burton materializou-se num cameo do realizador (estejam atentos), e o equilíbrio entre tensão, loucura e uma piada despropositada (ou não), tornam o argumento tão inteligente como despretensioso.

O deslumbramento de sentidos a que nos habituamos está de volta com uma estética não tão berrante como acontecia em Alice no País das Maravilhas ou Charlie e a Fábrica de Chocolate, mas que recorda trabalhos anteriores como O Grande Peixe. A banda sonora apesar de não contar com o brilhantismo de Danny Elfman remete-nos para um mundo encantado e cumpre bem o seu papel. De salientar ainda o desempenho de Eva Green como senhora Peregrine, a protetora dos jovens, que com a elegância e a astúcia de uma ave de rapina nos conduz pela sua casa, deixando-nos voluntariamente presos na sua majestosidade. Com este papel, Green consolida-se com inteira justiça como a nova grande cúmplice feminina do trabalho de Burton.

A Casa da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares é uma feliz simbiose entre o livro de Riggs e o génio visual de Burton, que se mantém tecnologicamente actualizado (o uso do 3D e dos efeitos especiais são reais acréscimos ao filme de forma natural) ao mesmo tempo que dá sinais de regresso à sua melhor forma e um vislumbre do que nos reserva para o futuro.