Poema visual libertário de Mike Hoolboom que reflecte cinema, política e relacionamentos de forma inesperada e desconcertante. Em We Make Couples o casal está no centro de todas as interrogações: por um lado, até que ponto o modelo conjugal dominante replica os valores e modos de agir do capitalismo (ao considerar-se o outro como propriedade privada, por exemplo) e em que medida uma certa dinâmica familiar pode facilmente tornar os seus elementos em peças de uma engrenagem, incapazes de traçar outro destino que não o do status quo?; por outro lado, não será o amor cultivado a dois das expressões mais genuínas de liberdade e conquista de felicidade imaterial?
É sobretudo neste sentido que Hoolboom procura nos meandros do casal elementos que, aplicados a outros círculos sociais, podem imprimir mudança e produzir novas geometrias de relacionamento.
Num registo imensamente livre, pensa também a política através do cinema, essencialmente por via da ideia de projecção como algo não real: fronteiras, estados, normas e comportamentos, não passam de constructos, imagens que urge reinventar.
A plasticidade dos planos, misturando animação, fotografias a preto e branco e filmagens em 16mm, é acompanhada de uma banda sonora minimalista e melancólica. É clara a ausência de uma estrutura lógica e identificável, que toma a forma de colagem aparentemente anárquica (também no sentido em que se apropria de muitas imagens). O realizador confessa mesmo que uma ideia inicial do filme não incluiria qualquer texto.
Mas, afinal, como poderia um filme tão livre, que suspira por novos modos de organização da vida em sociedade e propõe “mapear a cidade que não existe” apresentar-se constrangido por formalismos estéticos e artísticos, com uma organização coerente e previsível?
Classificação (0-10): 8
We Make Couples | 2016 | 57 mins | Realização: Mike HoolBoom