Este ano o Queer Lisboa – Festival Internacional de Cinema Queer tem como mote, O futuro do cinema queer, prometendo com a sua programação antever as direções do cinema queer. De 15 a 23 de setembro o Queer acontece entre o Cinema São Jorge e o MNAC – Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado, que vão receber a retrospetiva dedicada à artista multimédia Shu Lea Cheang, e serão exibidos 90 filmes provenientes de 32 países.
O Queer Lisboa arranca com a estreia de God’s Own Country, do britânico Francis Lee, na Noite de Abertura, e a Noite de Encerramento será celebrada com o muito aplaudido Mãe Só Há Uma, de Anna Muylaert. O Queer Lisboa terminará com a exibição de Mãe Só Há Uma, de Anna Muylaert, premiado na Berlinale em 2016.
FORA DE COMPETIÇÃO
Destaque para 1:54, do canadiano Yan England, que estará em Lisboa, o filme é protagonizado por Antoine-Olivier Pilon (o protagonista de Mommy, de Xavier Dolan). Quand On A 17 Ans, de André Téchiné, um dos mais aclamados realizadores do cinema pós-Nouvelle Vague, terá a sua antestreia nacional no Queer Lisboa.
Hard Nights terá em destaque Colby Keller, um dos mais populares atores porno da atualidade, que se define como comunista nos EUA, que apresentará no festival Colby Does America, projeto em curso desde 2014 que explora a representação e a mercantilização da sexualidade na sociedade atual. O ator estará em Portugal a propósito da sua participação no novo filme de Miguel Gonçalves Mendes, O Sentido da Vida. A secção conta ainda com os filmes: Berlin Drifters, de Koichi Imaizumi; Enactone, da cineasta, ativista e DJ Sky Deep, sobre Marie Scott, uma antiga escrava dos EUA que, depois de ser tornar numa vampira, ganha uma nova oportunidade para se vingar e viver para sempre;
When We Are Together We Can Be Everywhere, uma carta de amor da realizadora Marit Östberg para a sua estrela, Liz; e a curta Coming Out of Space, de Francy Fabritz, sobre a relação entre duas mulheres que colidem na Terra.
Queer Pop tem um programa centrado na obra de George Michael, Ver Sem Preconceito, composto por telediscos que traduzem o processo de progressivo afastamento dos modelos da pop star juvenil que marcaram o seu início de carreira; e outro focado nos novos valores da música queer do Brasil, denominado Brasil, século XXI: o canto da diversidade, onde pontuam nomes como Jaloo, Banda Uó, No Porn, McLinn da Quebrada ou Thiago Pethit.
Competição de Longas-Metragens
Coming of Age: As You Are , de Miles Joris-Peyrafitte foi prémio Especial do Júri em Sundance em 2016, e retrata um coming of age onde Jack é um estudante de liceu antissocial que vive com a sua mãe solteira numa cidade suburbana e que através da amizade se vai descobrir. Beach Rats, de Eliza Hittman, prémio de Melhor Realização em Sundance 2017, onde conhecemos Frankie, um adolescente sem rumo dos subúrbios de Brooklyn, com o pai à beira da morte e a mãe pressionando-o para que encontre uma namorada. Frankie escapa à desolação da vida que tem em casa envolvendo-se em problemas com os seus amigos delinquentes , enquanto Frankie luta para se reconciliar com os seus desejos, as suas decisões terão consequências irreparáveis.
Médio Oriente e o racismo crescente na Europa: The Beach House, primeira longa-metragem do libanês Roy Dib. O tema das migrações e das identidades sexuais na Europa de hoje ganha especial destaque em Los Objetos Amorosos, de Adrián Silvestre.
A forma como a aparência física nos condiciona na sociedade: Pieles, de Eduardo Casanova, tem contornos verdadeiramente estilizados e esquizofrénicos. A história de três mulheres que se encontram numa altura crucial das suas vidas num cenário inusitado, é retratada por Leonie Krippendorf em Looping; enquanto em Close-Knit a japonesa Naoko Ogigami reflete sobre questões identitárias e de preconceito, remetendo-nos para o estilo visual e narrativo do cinema de Hirokazu Koreeda. Destaque ainda para Corpo Elétrico, primeira longa do brasileiro Marcelo Caetano, que se centra em Elias, um jovem de 23 anos que nas suas relações desafia as normas hétero e homonormativas. O cineasta estará presente no festival.
Competição de Documentários
A autorrepresentação da família fragmentada de um cineasta muçulmano, paquistanês e gay, Arshad Khan, é-nos mostrada em Abu; somos levados até ao atual cenário de crise política no Brasil através do retrato do deputado Jean Wyllys em Entre os Homens de Bem, de Caio Cavechini e Carlos Juliano Barros, que estarão em Lisboa; é-nos apresentada uma visão queer das realidades sociais e politicas da Tailândia em Homogeneous, Empty Time, de Thunska Pansittivorakul e Harit Srikhao; enquanto em Au-delà de l’Ombre, de Mezni Hafaiedh, é-nos exposta a realidade tunisina e os efeitos de uma sociedade homofóbica num grupo de jovens. Já em Small Talk, de Hui-Chen Huang, temos acesso às mudanças ocorridas na vida de três gerações de mulheres do Taiwan. My Mother is Pink, primeiro documentário da jornalista Cecilie Debell, que também estará no festival, é um tocante road movie sobre uma relação conturbada entre um filho e a sua mãe. Em The Strangest Stranger, de Magnus Bärtås, conhecemos melhor o homem que inspirou Haruki Murakami no seu popular romance Kafka à Beira Mar. Jo Sol regressa este ano ao festival para apresentar Vivir y Otras Ficciones sobre o tema da assistência sexual a pessoas com diversidades funcionais.
Este ano, a produção nacional é reforçada na Competição de Curtas-Metragens, com filmes de João Pedro Rodrigues – Où En Êtes-Vous, João Pedro Rodrigues? –, Carlos Conceição – Coelho Mau –, Gabriel Abrantes – Os Humores Artificiais –, e Gonçalo Almeida – Phantom. A Competição inclui ainda títulos como My Gay Sister, que valeu à realizadora Lia Hietala o Teddy Award para Melhor Curta-Metragem na Berlinale (sendo que a cineasta estará em Lisboa) ou Les Îles, a última curta de Yann Gonzalez.
Camila José Donoso, a autora de Casa Roshell, um filme sobre este autêntico espaço de liberdade individual, estará em Lisboa para apresentar a sua obra, que integra a Competição Queer Art. O festival contará ainda com a cineasta Samira Elagoz, que traz à Competição o documentário Craigslist Allstars, que explora até ao limite a relação do corpo com os media, físicos e virtuais. Pablo Esbert Lilienfeld, correalizador de Introducing the Star: The Choir Girls’ Diaries, também vem ao festival apresentar este misto de ficção com documentário que é um passo em frente na construção de novas metáforas ligadas ao VIH/Sida. A Competição Queer Art conta ainda com o mais recente filme do célebre Bruce LaBruce, Ulrike’s Brain, uma sequela de The Raspberry Reich; Cuentos de Chacales, um exercício experimental sobre a fragmentação da memória, realizado por Martín Farina; A Destruição de Bernardet, documentário de Claudia Priscilla e Pedro Marques que nos revela a personalidade ímpar de Jean-Claude Bernardet, uma referência do cinema brasileiro desde os anos 1960; ou Occidental, uma parábola sobre a atual paranoia ocidental, protagonizada por Paul Hamy (protagonista de O Ornitólogo, de João Pedro Rodrigues), do franco-argelino Neïl Beloufa. A temática do VIH/Sida, os seus sobreviventes, bem como a relação entre a indústria farmacêutica, o mercado da droga, o poder estatal e as biopolíticas ganha corpo em Fluidø, o manifesto transfeminista de Shu Lea Cheang, artista que este ano é homenageada pelo Queer Lisboa.
QUEER FOCUS – SHU LEA CHEANG
Desde os anos 1980 que Shu Lea Cheang tem criado um trabalho multimédia focado em visões de corpos e relações a partir do cruzamento de tecnologias, biopolíticas, sexualidade, conflitos sociais e ambientais. Nesta retrospetiva vamos exibir não só as suas longas-metragens, Fresh Kill, de 1994, I.K.U., de 2000, e o referido Fluidø, mas também duas instalações: Brandon, inspirada na história de vida de Brandon Teena (conhecido do grande público no filme Boys Don’t Cry), e que em 1998 foi concebida para ser vista na Internet, comissariada e restaurada em 2017 pelo Museu Guggenheim de Nova Iorque e que agora será exibida no MNAC – Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado; e Those Fluttering Objects of Desire, que reúne as figuras de ativistas e artistas que narram o seu encontro com o sexo e a política. Esta homenagem conta ainda com um programa de curtas-metragens com diferentes abordagens ao tema da sexualidade, bem como a estreia internacional do projeto Wonders Wander, concebido propositadamente para o Madrid Pride 2017 e que explora uma nova geração queer, que inclui refugiados, migrantes e transfeministas. Shu Lea Cheang dará ainda uma master class no MNAC.
Festas
Durante o festival vão ainda realizar-se várias festas. A Festa de Abertura terá lugar no clube Fontória e contará com a música do trio Asneira (António Almada Guerra, João Villas-Boas e Tiago Pinhal Costa). No dia 21, o Queer Lisboa associa-se ao coletivo Groove Ball para uma festa no Rive-Rouge, enquanto um dia depois a festa será feita no clube Construction, onde estará presente Colby Keller. A Festa de Encerramento realiza-se no Titanic Sur Mer e nela vão passar música Sky Deep e Simºne.