Tempo Comum, o novo filme de Susana Nobre, realizadora que nos havia habituado ao registo documentário (Vida Activa em 2004), transpõe o seu olhar para a ficção e transporta-nos até ao hiato que a vida de uma mãe assume, nos primeiros meses de vida da sua filha. O passado documentarista de Nobre ainda é muito presente, o que situa este filme na fronteira nada comum da doc-ficção. A honestidade da vivência desta mãe, da relação que ela tem com o o pai da sua filha e as conversas que estabelece com todos que a visitam, tornam-nos testemunhas deste período de licença maternal. A tangibilidade das cenas, transparece o processo de Nobre – que teve a ideia para o filme durante a sua licença de maternidade – mas como na altura não filmou, o que seria um documentário autobiográfico íntimo, decidiu posteriormente retratar a sua experiência através de um outro casal que teve a sua primeira criança.
O tempo comum de Marta e Pedro com a sua recém-nascida Clara, é pontuado com a presença da sua rede familiar e de amigos que os vêm visitar, e é através destes, que são abordados temas como: a experiência da mulher e do seu companheiro no parto, as mudanças na dinâmica do casal e como gerem o cansaço inerente a esta fase. Por outro lado o meio externo também acrescenta outras dimensões ao argumento: os amigos que se espelham no nascimento de Clara para comparar a sua própria estória, ou questionar sobre a vontade de se ser mãe ou pai. O papel das avós, que actualmente levam uma vida mais activa, não estando ainda reformadas e que não dispõe de tempo para cuidar da sua neta, levando a que os pais tenham uma ajuda mais limitada. Ou a diferença do que é ser mãe na contemporaneidade e no passado, na cidade ou no campo, onde o acesso a médicos era muito mais reduzido ou inexistente.
Sem cortar o cordão umbilical com o registo documental, Nobre, escolheu filmar um casal real, actores não-profissionais, no seu contexto habitual. E o que ganhamos com a veracidade do ambiente, por vezes perdemos na contra cena dos actores, tornando alguns diálogos pouco credíveis. No que respeita o ritmo do filme, mais uma vez o seu passado dita o respirar das cenas, em oposição ao típico filme de ficção que premeia a rapidez do corte. Tempo Comum proporciona-nos um hiato nas nossas próprias vidas, deixando-nos apreciar este momento singular, conquistando aqui um espaço para parar, observar e viver. Para ver no festival IndieLisboa nos seguintes horários:
27 Abr 21:30, CULTURGEST GA | 1 Mai 19:00, CINEMA SÃO JORGE 3 | 6 Mai 16:00, CINEMA SÃO JORGE 2