
Num ano em que se comemoram vários marcos da história dos movimentos que reclamam o lugar das comunidades LGBTI+, o Queer Lisboa não podia deixar de fazer uma reflexão sobre o que significou meio século dos modernos movimentos de luta pelos direitos e dignidade destas mesmas comunidades. O que significa o ativismo num mundo global cada vez menos “comunitário” e cada vez mais individualista?
Na Competição de Longas-Metragens num total de oito filmes destacamos: And Then We Danced, de Levan Akin, estreado no Festival de Cinema de Cannes; vencedor de um Teddy Award na passada edição da Berlinale, Memories of my Body, de Garin Nugroho, estreado na edição de 2018 Festival de Cinema de Veneza; e Port Authority, de Danielle Lessovitz, onde Paul, recém chegado à cidade, conhece Wye, e a sua família afetiva, que o introduzem à cena kiki e ball.
Na Competição de Documentários destacamos: El Silencio Es un Cuerpo que Cae, estreado no Berlinale Panorama em 2018; Man Made, de T Cooper, seguimos as vidas de quatro homens transgénero que se preparam para competir na TransFitCon, a única competição totalmente trans-culturista do mundo; Ni d’Ève ni d’Adam. Une Histoire Intersexe, de Floriane Devigne, reflete sobre a forma como as pessoas intersexo procuram reapropriar os seus corpos e construir as suas identidades, enquanto questiona o que as nossas sociedades estão prontas para fazer em nome das normas sociais.
Na Competição Queer Art destacamos: Capital Retour, de Léo Bizeul, um corpo omnisexual e intersexo, busca significado, ou o contrário, enquanto se apresenta deitado sobre pelo falso em frente a uma webcam; Searching Eva, de Pia Hellenthal, onde os conceitos de privacidade, e identidade, são desafiados; Sol Alegria, uma viagem inesquecível pelo interior do Brasil que inclui freiras guerrilheiras, plantações de canábis, e a participação especialíssima de Ney Matogrosso; Letters to Paul Morrissey, de Armand Rovira, que por entre existencialismo austero, vampiros e lembranças ilusórias de Chelsea Girls, encena tanto uma homenagem ao realizador da Factory como um olhar distanciado sobre outros tempos e outros cinemas.
A Competição de Curtas-Metragens conta com 22 filmes onde se destacam obras como The Politics of Choice and the Possibility of Leaving, de Megan-Leigh Heilig, que documenta a partida da realizadora de África do Sul para a Bélgica; Estamos Todos Aqui, de Chico Santos e Rafael Mellim, em que a expansão do maior porto da América Latina avança sobre Rosa, uma jovem transgénero e toda a comunidade da Favela da Prainha.
Em Panorama, o Queer Lisboa 23 apresenta cinco filmes que marcaram o cinema queer neste último ano, com destaque para The Spark: the Origins of Pride, de Benoît Masocco, onde podemos reviver a história de Stonewall e as suas repercussões. Can You Ever Forgive Me?, de Marielle Heller; JT LeRoy, de Justin Kelly, onde revisitamos a história louca da encenação literária de JT LeRoy; Making Montgomery Clift, realizado por Robert Clift, sobrinho do lendário ator, e Hillary Demmon, examina as narrativas, verdadeiras ou falsas, que foram construindo o mito Monty Clift.
O Queer Pop apresentará Portugal Hoje com os documentários Conan, O Rapaz do Futuro, de Daniel Mota, e Lena d’Água – Nunca Me Fui Embora, de Hugo Manso e Nuno Galopim. Uma segunda sessão traz-nos telediscos recentes de alguns dos músicos portugueses do panorama atual: Filipe Sambado a Capicua, de Moullinex a Luís Severo passando por Surma ou Isaura. Para finalizar o Queer Pop, há ainda uma terceira sessão dedicada ao Hip Hop com artistas como Princess Nokia, Mykki Blanco, Big Dipper, e Brooke Candy.
Em Sessão Especial neste Queer Lisboa 23 será exibido ainda Mister Lonely, de Harmony Korine, o filme onde um imitador de Michael Jackson que faz espetáculos de rua, em Paris, para sobreviver, se apaixona por uma bela sósia de Marilyn Monroe, que lhe sugere mudarem-se para uma comunidade de imitadores nas Highlands escocesas.