«The Railway Man – Uma Longa Viagem» às memórias da Guerra

The Railway Man - Uma Longa Viagem

Do realizador Jonathan Teplitzky, que tem realizado e escrito filmes baseados em relações humanas (Burning Man, Melhor do que sexo) tem a sua estreia no drama de guerra em Uma Longa Viagem. Este filme conta-nos a história de Eric Lomax (Colin Firth) um entusiasta pelos comboios, profundamente marcado por mazelas causadas pela segunda guerra mundial.  O filme começa com um Eric derrotado, deitado no chão, recitando, num fôlego sofrido, uma lenga-lenga sobre as etapas da vida, poema esse que simboliza e é repetido num dos episódios mais violentos do filme.

Em saltos temporais vamos conhecendo o passado deste homem, e tudo muda quando numa viagem de comboio (ou não fossem os comboios uma personagem do filme, que, ora é onde a acção se desenrola, ou o objecto de estudo e interesse do jovem engenheiro) Eric conhece a sua parceira de vida, Patricia Wallace (Nicole Kidman), na altura uma recente divorciada à procura de uma aventura pelas paisagens britânicas, numa referência ao filme Breve Encontro, mas sem o conflito moral da traição. Iluminada por uma luz que se dirige apenas a ela, Nicole tem um desempenho tímido, numa personagem secundária tão persistente como submissa mas sem grande brilho. O amor dos dois fluí rapidamente e assim que se casam, Eric começa a ter pesadelos e alucinações. Através de flashbacks, conhecemos o vilão da trama, Nagase (Tanroh Ishida), o jovem oficial do Exército Imperial Japonês, que o torturou.

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Através de uma história verídica, este filme aborda o silêncio guardado no peito de muitos militares que não conseguem viver com memórias e experiências traumáticas e humilhantes que tiveram na guerra. E que ao retornarem para a sua vida familiar, não conseguem encaixar nos perfis impostos pela sociedade, pelas condutas familiares.

Na tentativa desesperada de ajudar o seu marido, com muito amor e compreensão, Patti recorre ao grupo de amigos de Eric, no clube de veteranos. Aqui encontra Finlay (Stellan Skarsgård, que tem a melhor interpretação no filme), que lhe revela alguns episódios que passaram na guerra quando os japoneses ocuparam Singapura, nos anos 40, e alguns ingleses foram levados para a selva da Tailândia trabalhar na linha férrea Burma-Siam. Uma linha férrea é um trabalho árduo, as mais complexas linhas do mundo foram construídas por mão de obra de pessoas em situações de pobreza ou de emigração ilegal, mas esta linha era, como eles descreviam, “trabalho para um exército de escravos”, e foi exactamente isso que muitos o foram. Mas dado o conhecimento em engenharia que o grupo de Eric e Finlay possuía, foram dispensados desses trabalhos inumanos.

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Para acentuar esta diferença a direcção de arte contrasta as cores da terra árida e os corpos castigados que trabalhavam na linha férrea, com o verde vivo da selva onde se planeia a futura linha e onde os engenheiros têm tempo para, às escondidas, construírem um rádio que lhes traz notícias de vitórias dos Aliados na guerra. Até ao dia em que o rádio foi descoberto e o tratamento especial tornou-se num pesadelo, metodologia perpetuada até aos dias de hoje: interrogatórios, tortura, açoitamentos…

Um filme que transborda influências de A Ponte Sobre o Rio Kwai, revela o seu elemento mais interessante, já depois da segunda metade do filme, quando Eric toma conhecimento que Nagase está vivo e tornou o sítio da sua tortura, num “museu de guerra”. Aí ele decide confrontá-lo. Este encontro encerra em si mesmo um desfecho, que pode alimentar um ódio de duas pessoas instrumentalizadas que se odeiam, por coincidentemente estarem em lados opostos da fronteira. Ou por outro lado, conscientemente pararem de se odiar, colocando-se no lugar do outro, e perdoar, exaltando que numa guerra todos os lados perdem, e o meu inimigo é tão humano quanto eu.

Numa história que peca por introduzir o momento de viragem tarde demais, o seu desfecho é um aspecto positivo, não sendo tão tendencioso como o que parecia indicar toda a construção do argumento. No entanto as interpretações soam a pouco para o tom épico que o filme pretende ter.

Classificação (0-10): 7

The Railway Man – Uma Longa Viagem | 2013 | 116 mins | Realização: Jonathan Teplitzky | Argumento: Frank Cottrell Boyce e Andy Paterson | Elenco principal: Nicole Kidman, Stellan Skarsgård e Colin Firth

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