«Por Detrás do Candelabro»: Uma ode a Liberace

Por Detrás do Candelabro

Por Detrás do Candelabro

Kitsch, inebriante e emocional, Por Detrás do Candelabro, o mais revente filme de Steven Soderbergh, conta-nos a história de amor trágicómica de Liberace, um prodígio do piano em pleno auge da sua carreira nos E.U.A. (interpretação genial de Michael Douglas), e Scott Thorson (Matt Damon), um veterinário que é conquistado pelo charme da vedeta. O filme começa por focar na personagem de Scott, ou não fosse o filme baseado na sua autobiografia intitulada “Behind the Candelabra: My Life With Liberace”, e segue-o numa saída à noite onde acabar por conhecer Liberace nos bastidores.

O plano premonitório na cena de bastidores, onde se ouve Liberace a falar com Scott mas a câmara está focada apenas no parceiro de Liberace – que franze os lábios e revira os olhos em tom de escárnio – enquanto vemos o flirt atrás num plano desfocado – marca o fim de uma antiga paixão e o princípio de outra: um ciclo contínuo… E se no princípio acompanhamos Scott em primeiro lugar, a partir do momento em que Liberace é apresentado, ele passa a absorver todo a atenção da câmara, ouvindo-se por vezes apenas a voz de Scott a narrar partes da sua história.

A magnitude da fama do pianista é realçada pela adoração das fãs que quase o afogam para ter um minuto da sua atenção. O tema da sexualidade é introduzido pela fala de um mútuo amigo de Scott e Liberace, que refere que elas não fazem ideia que ele é gay, marcando desde o início essa imagem errónea de heterossexual aos olhos do seu público, que faz questão de alimentar até ao fim. E por outro lado a sua verdadeira orientação na vida privada, onde sabe exactamente quem é, amenizando os preconceitos de um passado religioso de Scott, dizendo que ser cristão não implica nada, o que importa é ser honesto com quem se é.

Os planos vertiginosos da câmara acentuam a velocidade com que Liberace dominava as teclas, num ritmo tão perfeito como a sua capacidade para conquistar as massas. O guarda roupa e maquilhagem são brilhantes, em todos os sentidos da palavra, realçando tanto uma imagem marcante de estrela, como a liberdade a que se dava direito pelo menos através do seu visual extravagante. Esse extremismo é visível tanto no guarda roupa como em toda a direcção de arte. Apesar de uma orientação sexual camuflada interiormente, no exterior ele celebra-a: na sua roupa, no décor dos palcos e na sua casa a luxúria do branco, do dourado e dos candelabros transborda por todos os cantos.

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Durante o seu romance de seis anos a maioria das cenas são filmadas em casa, sítio onde, por um lado, estão protegidos de uma exposição indesejada mas que, por outro lado, soa a prisão, onde os dois de consomem e se esgotam, numa relação que vive na fronteira entre serem amantes ou pai e filho. Liberace, que vive numa constante procura de algo que o entretenha e que sofre de um amor por si próprio inesgotável, leva a que Scott faça uma operação plástica que o torne mais parecido com um Liberace jovem (reforçando a ideia de parentalidade). A questão do vício da cirurgia plástica é abordada em tom cómico e superficial, condizente com a personalidade de Liberace, que tem consequências tão extremas quanto reais, ao ponto da pele estar tão esticada que os olhos não conseguem fechar. As próteses pareceriam falsas se esta não fosse uma história real, e não estivéssemos habituados a ver casos verídicos em pleno horário nobre da televisão.

Por Detrás do Candelabro é um filme com alguma profundidade e uma crítica audaz, mas que nos tenta convencer que tudo é apenas superficial e frívolo. Para além das aparências, este filme é um justo vencedor de três dos principais Emmys de 2013: melhor filme, melhor realizador e melhor actor principal (Michael Douglas).

Classificação (0-10): 7

Por Detrás do Candelabro | 2013 | 118 mins | Realização: Steven Soderbergh | Argumento: Richard LaGravenese | Elenco principal:  Michael Douglas, Matt Damon, Scott Bakula e Eric Zuckerman

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