Fazendo correspondência com o nome de um dos protagonistas – Odysseas (Nikos Gelia) – Xenia, de Panos H. Koutras, é uma autêntica odisseia helénica na qual importa mais o trajecto do que o objectivo final. Aqui, a missão dos irmãos Ody e Danny é encontrar o pai que os abandonara na infância, confrontá-lo com as suas responsabilidades e assim conquistar o passaporte para uma nova vida: dinheiro e a nacionalidade grega. Mistura fina de comédia descontrolada e drama profundo, de ternura e desencanto, trata-se também de uma obra deveras provocante ao convocar para o grande ecrã a questão da diversidade da orientação sexual e dos direitos dos imigrantes numa realidade social em que a crise económica tem feito crescer não só a pobreza como as manifestações de xenofobia, racismo e homofobia (tal como vem tristemente acontecendo um pouco por toda a Europa). Neste caso, os dois rapazes semi-albanses são formal e informalmente tratados como estrangeiros na Grécia, mesmo sendo esse o seu país de nascença. A construção das personagens, em particular dos dois protagonistas, recheada de detalhes que as tornam profundas e singulares, assim os laços fraternos e a protecção mútua, representa grande parte da substância do filme: Danny (Kostas Nikouli), um frenético queer punk adolescente com uma infância mal resolvida e frequentemente alvo de confrontos homofóbicos, e Ody, à primeira vista um durão porém rendido aos acordes de um qualquer clássico da diva italiana Patty Pravo, são interpretações tocantes e envoltas numa química bastante especial. Todavia, é a justaposição do realismo com a fantasia surrealista que eleva o filme a outro patamar, através de um argumento magnificamente emaranhado onde cabem concursos de talentos, animais falantes e a representação de sonhos. Juntando-lhe uma banda sonora com uma presença crucial, um ritmo elevado e uma vibrante paleta de cores (possivelmente inspirados pelo estilo de Danny Boyle em Quem Quer Ser Bilionário?) Koutras mostra-se consistentemente capaz de cativar o interesse do espectador. |