IndieLisboa’13: o pulsar do mundo

A secção Pulsar do Mundo do IndieLisboa oferece uma perspectiva crítica sobre o presente, uma oportunidade de reflexão que é intensificada pelo efeito de uma linguagem cinematográfica muito bem definida. Com temas totalmente distintos, a edição de 2013 apresenta 7 longas e 9 curtas metragens.

Um dos filmes mais aguardados do programa de longas metragens é The Act of Killing, de Joshua Oppenheimer, um documentário desconcertante: os auto-intitulados gangsters indonésios, milícias responsáveis pela morte de milhares de supostos comunistas, são agora as estrelas do seu próprio cinema. Dois realizadores, Rob Rombout e Rogier Van Eck, viajam por 15 estados americanos, filmando as histórias dos amsterdamers com quem se cruzam, num retrato do interior da América em Amsterdam Stories USA. Ao realizar Doméstica, Gabriel Mascaro entregou sete câmaras a sete crianças para que filmassem as suas empregadas domésticas; o resultado é uma observação íntima sobre o fosso entre classes no Brasil. Donauspital – SMZ Ost, de Nikolaus Geyrhalter, é uma impressionante composição; nas suas partes, vemos as várias rotinas de um hospital, no seu todo, percebemos que tanto o edifício como as máquinas estão em pé de igualdade com os humanos. Há ainda espaço para descobrir duas histórias desconhecidas: The Girl from the South, de José Luis García, filme sobre Lim Su-kyung, activista sul-coreana que sonhava com a reunificação do país e Metamorphosen, de Sebastian Mez, que mostra a área afectada pelo acidente nuclear em Mayak, na Rússia, um dos maiores da história. Public Hearing, de James N. Kienitz Wilkins, é um brilhante exercício estético filmado numa audiência sobre a expansão do Wal-Mart, exaustivamente discutida pelos cidadãos de uma pequena cidade americana.

A partir do programa de curtas metragens podemos desenhar um perfil da história recente. The Bull Laid Bear, de Oliver Ressler e Zanny Begg, explica a actual recessão económica. The Devil, de Jean-Gabriel Périot mostra sem filtros a América dos anos 60/70, território de segregação racial. Com Diarios de Frontera, de Irene Gutierrez, uma estreia mundial, regressamos ao tema da emigração proveniente do Norte de África, através de imagens captadas com os telemóveis dos emigrantes durante as duras travessias fronteiriças. Le dossier 332, de Noëlle Pujol, parte de uma trilogia autobiográfica onde a realizadora explora as suas obsessões passadas, que se reflectem na estética do filme. Mr. Magdy, Room Number 17 Please, de Carl Olsson, mostra as vidas de quatro habitantes do Cairo pós Tahrir. Em Real Man’s Film, de Nebojsa Slijepcevic vemos algo inconcebível de imaginar sem ajuda, uma feira de armas na Croácia transformada num evento familiar. Narmada, de Gregory Cohen e Manon Ott, é uma viagem ao longo do rio indiano, até ao complexo de barragens, que muito influencia a vida dos habitantes locais. Há um documentário de animação na secção, La nuit de l’ours, de Fred Guillaume e Sam Guillaume, que trata, de um ponto de vista original, a exclusão social na Suíça sob o olhar do Grande Urso. Por fim, The Wave, de Sarah Vanagt e Katrien Vermeire, um olhar arqueológico que incide sobre a história da guerra civil espanhola.

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