Depois de ter atingido a maioridade no ano passado, o mais antigo festival de cinema de Lisboa volta de 18 a 26 de setembro ao Cinema São Jorge para a sua 19ª edição. A programação contempla 76 filmes de 34 nacionalidades distintas que, de acordo com o director artístico do festival João Ferreira, proporcionam “um olhar queer ao mundo exterior”, tomando como suas “questões como a crise financeira e económica, as migrações, o terrorismo, a xenofobia, a falência dos regimes democráticos, os problemas ambientais, a fome, entre inúmeros outros desafios que o mundo enfrenta neste novo século”.
Entre os destaques surgem em primeiro plano os filmes de abertura e encerramento do festival, ambos estreias nacionais: o primeiro, Praia do Futuro, realizado por Karim Aïnouz e protagonizado por Wagner Moura, aborda os conflitos da juventude e da sexualidade e marcou presença na edição de 2014 da Berlinale; o segundo, Eiseinstein in Guanajuato, de Peter Greenaway, um biopic do visionário realizador russo Sergei Eisenstein e da sua misteriosa passagem pelo México.
Na Competição de Longas-Metragens surgem propostas tão diversas como 7 Kinds of Wrath, sobre a crise na Grécia, Lilting, distinguido no Festival de Cinema de Sundance e cujo realizador Hong Khaou estará em Lisboa, Amor Eterno, que reinventa o filme de adolescentes, Limbo, sobre a paixão não correspondida de uma aluna pela sua professora, A Escondidas, onde o racismo se cruza com a sexualidade na adolescência ou La Visita, uma história corajosa sobre transsexualidade, entre muitas outras.
Uma das grandes novidades do Queer Lisboa 19 está ligada à secção Queer Art, que este ano passa a competição, numa parceria com a Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Para a Competição de Documentários, Call Me Marianna, de Karolina Bielawska, é um dos títulos selecionados, numa exibição que contará também com a presença da realizadora. Já Vincent Leclercq, uma das figuras centrais de Vivant!, documentário de Vincent Boujon que mostra como ainda hoje persiste o estigma do VIH/Sida, estará igualmente presente no festival. Após a sessão, Leclercq participará num debate com Ricardo Fuertes, do GAT – Grupo Português de Ativistas sobre Tratamentos de VIH/SIDA, com a presença dos realizadores Joaquim Pinto e Nuno Leonel. A Guerra da Independência da Argélia é o pano de fundo do documentário La Nuit S’achève, de Cyril Leuthy (o realizador é outro dos convidados do Queer Lisboa 19), onde um filho cineasta e o seu namorado acompanham um homem francês que revive a rota do seu exílio.
A música volta com a secção Queer Pop, que nesta edição assinalará os 25 anos do lançamento da compilação Red Hot + Blue, da Red Hot Organization, que tem levado a cabo campanhas de recolha de fundos e de mensagens de informação na luta contra a sida, recordando ainda outros discos desta organização, um deles dedicado a Lisboa, mas também celebrará a artista islandesa Björk, através de um olhar antológico sobre a sua obra através de dois conjuntos de telediscos.
A secção Hard Nights terá em destaque este ano dois cineastas: António da Silva, premiado realizador português, a viver em Londres desde 2005, de quem serão exibidos os seus três últimos filmes, e Goodyn Green, fotógrafa e cineasta porno queer dinamarquesa que vive e trabalha em Berlim, de quem vão passar dois filmes.
Queer Focus volta às salas do Cinema São Jorge com um programa que procura questionar as relações de poder que se estabelecem através do sexo, com títulos como Kopfkino, que nos apresenta oito mulheres que trabalham no ramo S&M a partilharem episódios passados com os seus clientes; Sexy Money, documentário musical que acompanha as histórias de várias mulheres nigerianas que optam pelo mercado da prostituição na Europa em busca de melhores formas de subsistência; Die Menschenliebe, que dá a conhecer alguns dos obstáculos e dificuldades atravessadas por pessoas portadoras de deficiência na demanda pela autodeterminação sexual; Baby, I will make you sweat, no qual Birgit Hein partilha as memórias das suas viagens até à Jamaica, onde encontra um novo vigor para a sua vida na relação que estabelece com um prostituto jamaicano; e Love Hotel, sobre um dos espaços mais restritos e anónimos da sociedade japonesa. Giovanna Stopponi, produtora de Love Hotel, estará no festival a apresentar o documentário, juntamente com Birgit Hein.
Durante o festival vão ainda realizar-se dois workshop, um de Gustavo Vinagre e outro de Marc Siegel, bem como diversas festas: as de Abertura e de Encerramento, que terão lugar no clube Fontória Blues Caffe & Dinner, mas também uma noite de leitura encenada de A Máquina-Hamlet, de Heiner Müller, na SaunApolo 56 e ainda A$$ET Value, apresentada no Teatro do Bairro pela plataforma Rabbit Hole, sem esquecer que ao longo do festival os membros da equipa do Queer Lisboa vão servir de DJ no 49 ZDB.