
Dune é a adaptação de Denis Villeneuve (Arrival e Blade Runner à obra de Frank Herbert, tendo também escrito o guião com Eric Roth e Jon Spaihts. Sendo o seu segundo remake (Blade Runner 2049 é um filme bastante mais carismático), Villeneuve repete o feito de David Lynch (1984) em adaptar o complexo Duna.
A estória é a típica jornada do (semi) herói, com muitos clichés, personagens arquétipos e muita ação à mistura mas há também muitas coisas boas!
Villeneuve é capaz de transmitir visualmente a mais intangível atmosfera (assim o fez em Arrival) e o filme tem momentos de grande poesia estética, ao materializar em imagens os sonhos de Paul (Timothée Chalamet), num esfumar de véus em câmara lenta e cores quentes, e os brilhos mágicos da especiaria. Mas também de diálogos que carregam os valores pesados da moralidade e que cabem em qualquer livro de citações inspiracionais.
O equilíbrio entre a calma da contemplação do deserto e o frenesim das cenas de ação é muito bem conseguido e sente-se o cunho autoral por detrás de uma tempestade de areia.
A narrativa tem muitas camadas, o que garante uma profundidade face aos personagens planos. A influência indígena e da cultura árabe presente no povo Fremen e celebrada no filme, é uma característica muito enriquecedora. Tanto a nível visual, no guarda roupa, como na linguagem e como o som é trabalhado para a elevar a um nível metafísico. A banda sonora é mais uma obra prima assinada por Hans Zimmer que nos agarra pelos colarinhos e nos mergulha na tela.
Há uma crítica patente à religião, personificado na ordem Bene Gesserit, à qual Lady Jessica mãe de Paul (Rebecca Ferguson) pertence, e é criticada porque “apesar de quererem o bem de todos, elas têm a sua própria agenda”… que pode ser tão controversa quando a política ditatorial da qual este universo é feito.
A Mulher é retratada através de figuras com poder, ocupando lugares de destaque no seu desenrolar. As Bene Gesserit detêm o poder sagrado e místico (em contraste com um poder terreno masculino), Lady Jessica é tratada como igual pelo marido Duque Leto (Oscar Isaac), e a sua influência e poderes garantem-lhe imunidade, e a ecologista Fremen Liet Kynes (Sharon Duncan-Brewster) cuja personagem foi modificada para mulher no filme.
O elenco multicultural em modo chuva de estrelas, tem uns brilhos especiais (a realeza Atreides interpretada por Ferguson e Isaac) e umas rajadas de areia mais desconfortáveis (Jason Momoa e Josh Brolin).
Classificação (0-10): 8